quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A MEDICA DE VAMPIROS - 1º PARTE

Desde criança gostava de sangue e todos os tios, primos e parentes afirmavam peremptoriamente que eu seria uma médica. Uma grande e chata médica. Eu confesso que gostava da idéia de passar a minha vida vivendo com sangue e bisturis.
Aos cinco anos de idade decidi: seria uma médica. Só não sabia a brincadeira que o destino me reservava.
Nasci no sul da Transilvânia, terra dos ciganos e vampiros, berço do grande Conde Drácula e todas as crianças dormiam com medo do ataque dos sugadores de sangue. Não era diferente das demais crianças e tinham uma mistura de temor e fascinação pela raça dos homens morcegos.
Brincávamos na escola de grupos de ferozes vampiros contra os caçadores e heróis do povo, sempre queria ser uma vampira feroz e agressiva. Participei até de uma peça no teatrinho da escola onde fazia uma ponta num banquete de vampirinhos. Todos riam dos meus dentes com tinta vermelha e meus olhos pintados.
Quando olho as fotos ficou imaginando o que teria feito se soubesse naquela época o que aconteceria com aquela criança pura e inocente. Teria negado meu destino ou teria ido pelo mesmo caminho que me trouxe até aqui?
No inverno ficávamos ao redor da lareira para ouvir as estórias do Tio Drank, todas falavam de lobos e vampiros, terror e sangue, almas revividas e mortos vivos.
Agarrávamos à saia da mamãe e abríamos os olhos assustados e ao mesmo tempo atenciosos com a voz grossa e pausada do nosso Tio. Uma hora era um urro de dor, outra um grito ou uivo de lobo, ao mesmo tempo o desespero da vitima que agonizava sobre a força dos dentes de um vampiro. A aventura durara até a hora da voz rude do meu pai- hora de dormir. Vamos todos.
Subíamos as escadas presas as mãos da mamãe, os olhos procurando sinais pelos cantos e o coração batente acelerado pelo medo infantil.
O lençol cobria até a cabeça e os olhos ficavam fechados como um cofre que guarda o maior segredo da terra. Nada, mais nada mesmo, faria aqueles olhinhos medrosos separarem as pálpebras até o amanhecer.
Nossos sonhos eram pesados e assustadores, povoados pelos medos e pela curiosidade da fase em conhecer novos seres e personagens imaginários.
Passei a minha infância assim, passeando e fugindo de vampiros, lobos, mortos vivos e outros seres fabricados pelo folclore da minha terra e pelo medo da criança que habitava em mim.
Mais crescemos e vamos tendo outros medos e outras preocupações. O cabelo, os seios crescendo, as espinhas, os meninos da escola, a primeira paixão impossível, a competição entre as meninas, as provas, os pais, e tantas coisas que são importantes na época e hoje só causam sorrisos e em alguns casos um pouco de vergonha do mico acontecido.

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