sábado, 4 de fevereiro de 2017

Eu e meus Budas.

            Minhas estatuas de Budas, monges e meus Malas, todos estavam inquietos hoje cedo. Não entendi bem aquele comportamento e fiquei buscando nos textos e livros na estante. Os monges puxavam a bainha da minha calça e o Buda gordo e serio apontava o dedo em riste no meu rosto, na altura da estante da sala.
               Já meu mestre de barba olhava com o rosto sereno e apontava o cajado para a porta. Todos me empurravam para a porta da sala. Fui ao poucos obedecendo a ordem. Com o livro na mão e um Mala na outra caminhei, passos lentos e confusos, para a porta. 
         Ao sair encontrei um arco-iris cortando os céus do condomínio e um lagarto, verde e translucido, estendido ao sol e admirando com os semi-olhos abertos a cerca verde da minha casa.
Pensei se a mensagem dos budas e monges era para ver o arco-iris, ou para o lagarto verde e translucido!
                Fiquei um pouco mais atordoado, minhas peças tendo vida, um arco-iris na minha porta e um lagarto verde e translucido era demais para uma mente preocupada em fazer o café, ler o jornal e esperar o sábado passar para assistir futebol.
                Parei! Assustado e com vontade de gritar entendi o que estava acontecendo. Eu estava virando um cara que a televisão deixou burro, burro demais, como diz uma musica de uma banda de pop rock.
                E precisava olhar mais os arco-iris da vida, aqueles que nos incomodam diariamente e fazemos questão de ignorar. Quantos lagartos verde e translúcidos nos abordam nos sinais de transito e esquinas das longas avenidas de lojas com estantes brilhantes e muito consumo.
                Pensei que já fazia demais, eu penso nisso, escrevo sobre isso. Como? o que você disse, Monge de barba? Agir, levantar da meditação, abrir a porta do carro no sinal, fica de cocoras com o lagarto verde e translucido da esquina! Ouvir os lamentos silenciosos dos corações oprimidos e das bocas famintas, abraçar a dor do desprezo e da humilhação do pedinte e sentir a vergonha nos olhos do cidadão que implora um emprego.
                 Mas Monge de barba!, Isso acontece todo dia e não vou conseguir resolver só. O velho Clichê da andorinha, aquela que não podia mudar o mundo sozinha, lembra?
                 Esqueço, devo sim mudar meu mundo sozinho e  depois dou um ajuda aos demais para mudar esse mundo maior, amplo, geral e irrestrito, sem dono e cruel com aqueles que sonham.
               
               

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