segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O Puxadinho da Previdência

Carta de Formulação e Mobilização Política 
 Segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Reforma do sistema de aposentadorias e pensões corre risco de ser desidratada e afastar-se da imperativa necessidade de tornar a Previdência brasileira mais justa e menos desigual
A crise política deflagrada a partir de maio atropelou o principal item da agenda de reformas em marcha no Brasil: a mudança no sistema de aposentadorias e pensões. Pelas previsões iniciais, a esta altura a Previdência já deveria ter tido suas regras alteradas, mas infelizmente isso não ocorreu. 
A proposta, que depende de emenda constitucional, foi aprovada em comissão especial da Câmara ainda no mês de maio. O prognóstico era de que passaria pelo plenário e seguiria para tramitação no Senado ainda no primeiro semestre. Nada disso aconteceu até hoje. 
Infelizmente, quanto mais tempo se leva para a votação, a tendência é de se exacerbar a "ética de conveniência", em detrimento da ética da responsabilidade.

A reforma é imperativa. Quem quer que a ponha em dúvida age de má-fé ou dedica-se apenas a fazer proselitismo eleitoral - e não são poucos os que assim atuam.
Mudar o sistema é fundamental por razões fiscais e demográficas, mas é também mandatório sobretudo para combater privilégios e tornar o sistema mais justo - o que significa acabar com o sistema de aposentadorias especiais e colocar todos os brasileiros sob um mesmo regime, o do INSS. Hoje, as atuais regras clararemente beneficiam muito mais as pessoas mais ricas.
O maior problema em torno da reforma tornou-se o escopo das mudanças. A proposta aprovada na comissão especial da Câmara era profunda o suficiente para desenhar um horizonte consistente de recuperação das contas da Previdência, com efeitos diretos sobre a solvência do Estado. Era também política e socialmente aceitável. 
Ocorre que o enfraquecimento político do governo federal também debilitou as condições de conduzir uma mudança mais profunda. Desde então, passou-se a trabalhar com a hipótese de uma reforma tímida. Agora começa-se a cogitar também alterar o prazo mínimo de contribuição, segundo relatou a Folha de S.Paulo no fim de semana. Desfigurar a proposta de reforma a tal ponto, definitivamente, não é a melhor alternativa.
É insofismável que o país tem um encontro de contas a fazer com seu sistema de aposentadorias e pensões. Quanto mais ele demorar a acontecer, piores serão as condições a remediar, mais custosas e mais radicais terão de ser as mudanças. Uma reforma tímida apenas obrigará uma nova rodada de modificações num prazo bem curto, já no início do próximo governo. 
O risco que não se pode correr agora, sob nenhuma hipótese, é o de aprovar um puxadinho que só sirva para que os adversários da mudança o transformem em bandeira eleitoral para seu proselitismo demagógico. Seria um desserviço à Previdência e, por consequência, ao Brasil.
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do [itv.org.br]Instituto Teotônio Vilela
 

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