quarta-feira, 6 de setembro de 2017

A Quadrilha em Caravana

Organização criminosa denunciada ontem pela PGR comprova que corrupção não é incidente espasmódico na trajetória do PT. É modus operandi e método de gestão
Dois ex-presidentes da República e cinco ex-ministros de Estado - dos quais hoje uma é senadora da República e presidente de partido e outro, prefeito - poderiam formar um belo time de quadros para ajudar o país a emergir da crise em que se encontra. Não no caso do PT. Juntos, eles formaram uma quadrilha, cuja atuação foi determinante para afundar o Brasil.
Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Antonio Palocci, Guido Mantega, Paulo Bernardo, Edinho Silva, Gleisi Hoffmann e João Vaccari Neto foram denunciados ontem pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por prática de crime de organização criminosa por uma "miríade de delitos".
Segundo a peça enfim oferecida à Justiça, eles teriam recebido a bagatela de R$ 1,48 bilhão em forma de propina em troca de contratos bancados com dinheiro público, pilhado de órgãos como BNDES e Ministério do Planejamento e de empresas como a Petrobras, cujos prejuízos somam pelo menos R$ 29 bilhões, no ver do TCU. Considerando o que foi movimentado também em consórcio do PT com PP e PMDB, a cifra dobra. A indenização cobrada aos denunciados alcança R$ 6,5 bilhões.
Apenas para aquilatar, além dos dois ex-presidentes que o partido elegeu, compõem o grupo toda a equipe que comandou a economia brasileira ao longo dos 13 anos dos governos do PT, a atual presidente da legenda, o quarto tesoureiro da sigla alvo de processos judiciais e um prefeito em atividade. Dilma participou da organização tanto como principal ministra de Lula quanto como principal mandatária do país.
Mas papel central quem teve mesmo foi Lula. Réu em outras cinco ações e já condenado a nove anos e meio de cadeia, agora é apontado na denúncia apresentada pela PGR como "grande idealizador" da quadrilha. Cerca de um sexto da dinheirama movimentada pela organização criminosa (ou seja, R$ 230 milhões) teria ido parar nos bolsos do ex-presidente e ora pré-candidato do PT à presidência da República.
No tour com que percorreu o Nordeste do país nos últimos 20 dias, encerrado ontem, Lula deparou-se com muitas das obras (ou, mais correto dizer, com o esqueleto delas) que serviram de fonte de dinheiro para as falcatruas denunciadas pela PGR. Na caravana, apresentava como benfeitorias projetos contestáveis que, segundo as investigações, serviram como maná para alimentar o esquema de corrupção.
A drenagem de dinheiro público pelos petistas ocorreu desde a campanha que culminou com a ascensão de Lula ao comando do país, em 2002, até o último dia de Dilma na presidência, em maio do ano passado, segundo a denúncia apresentada pela Procuradoria. Ou seja, a corrupção não é incidente espasmódico na trajetória do PT. É modus operandi e método de gestão.
Começa nos primeiros escândalos descobertos na prefeitura de São Paulo na gestão Luiza Erundina (1989-1992), passa pelos municípios do ABC, e chega ao ápice com o controle do poder nacional, de 2003 a 2016, resultando na maior recessão econômica da história traduzida em uma nova "década perdida".
Hoje fica cada vez mais preciso o comentário feito por Delúbio Soares, no longínquo ano de 2005, sobre as investigações então em marcha em torno do mensalão. O ex-tesoureiro prognosticou que, ao final, restaria claro que aquele esquema não passara de "piada de salão". Certíssimo. O assalto que viria depois, no âmbito do petrolão, movimentaria, segundo a denúncia apresentada ontem, recursos pelo menos 20 vezes maiores - e isso é aritmético, não retórico.
É de se lamentar que, diante de tantas e tamanhas evidências, o procurador-geral Rodrigo Janot tenha demorado tanto para arrolar Lula e seus petistas de proa no rol dos alvos das investigações desenvolvidas no âmbito da Operação Lava-Jato. Pelo menos, para fazê-lo ele não terá precisado de delações fajutas como as que usou contra Michel Temer e Aécio Neves...
Em 2014, após a eleição presidencial o então candidato do PSDB afirmou que havia sido derrotado na disputa por uma "organização criminosa". Foi apoiado por uns, e apontado por outros como "mau perdedor". O desenrolar dos fatos está mostrando quem, afinal, tinha razão. A quadrilha denunciada ontem pela PGR sonha em voltar a comandar o Brasil. Está evidente por que o querem, e por que o Brasil não merece incorrer novamente neste erro.
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela
 

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