domingo, 17 de setembro de 2017

Um Novo Obstáculo





Acusações feitas contra Temer merecem ser apuradas, mas podem aguardar fim do

mandato. País não precisa passar por novo baque que bloqueie recuperação já árdua




A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou ontem sua segunda denúncia contra Michel Temer, além de quatro ex e atuais ministros de Estado. É a flechada final de Rodrigo Janot à frente do Ministério Público Federal. Muito provavelmente a ocasião tenha precipitado a apresentação da peça.
Há meses vinha-se anunciando a nova denúncia, sempre sob expectativa de revelações bombásticas que seriam capazes de constranger em definitivo o presidente da República. O que veio foi "um compilado de acusações já conhecidas", na definição da Folha de S.Paulo, ou um "mexidão", segundo o Valor Econômico. De delatores retumbantes, só sobrou o doleiro Lúcio Funaro. 
Não se trata de negar as acusações de organização criminosa e obstrução da Justiça atribuídas ao grupo. Até porque elas envolvem práticas que vêm, segundo a PGR, desde o governo Lula, atravessaram a gestão Dilma e guardam relação com o mesmo modus operandi adotado pelo PT. São, portanto, críveis e precisam ser devidamente investigadas - até pelos R$ 587 milhões supostamente envolvidos e pelos bilionários prejuízos ao patrimônio público.
A questão é o quando. No caso do presidente da República, as denúncias podem perfeitamente aguardar o fim do mandato para serem apuradas. Será feita a devida justiça e o país não correrá risco de parar novamente, como aconteceu por ocasião da eclosão da delação - ora vê-se forjada - da JBS em maio passado. 
Os prejuízos em termos da paralisia que se seguiu à divulgação daqueles áudios gravados por Joesley Batista foram evidentes. A economia brasileira, que vinha em processo de recuperação, sofreu um baque, que felizmente não se mostrou capaz de frear o ímpeto iniciado com a mudança de governo, em maio do ano passado. 
Mas é líquido e certo que a crise política cobrou seu preço em empregos que deixaram de ser gerados, negócios que não foram fechados, decisões que foram postergadas. De maneira muito objetiva, serviu como luva para corporações - a exemplo da dos procuradores da República - bloquearem a agenda de reformas, em especial a da Previdência, no Congresso - ora novamente ameaçada. 
Há razões para não repetir a dose. A própria PGR fornece antídoto para a nova denúncia. No mesmo dia em que a apresenta, solicita também, em outro processo, que as colaborações que deram origem às primeiras acusações sejam canceladas, por ilegítimas. Portanto, fragiliza ela mesma a investida derradeira de Janot contra Temer, uma vez que em parte também se baseia nas mesmas provas fajutas produzidas pelos Batista.
Não se trata, nesse momento, de questão de mérito, mas tão somente de oportunidade. No caso do presidente, a hora de investigar estas novas denúncias não é agora - no dos demais envolvidos, pode até ser. Um novo tranco desse tipo pode comprometer ou ao menos atrasar a trajetória de retomada da economia do Brasil, já suficientemente árdua por si própria.
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela
 

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